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Postado em 28 de agosto de 2020

Já estávamos isolados antes da pandemia?

Já estávamos isolados antes da pandemia?

Já estávamos isolados antes da pandemia?: Vivemos um momento de incertezas em nossas vidas. A humanidade passa por uma crise sanitária global, causada por um novo vírus chamado: Covid-19, pertencente ao grupo dos Coronavírus. No entanto, não é de agora que enfrentamos uma pandemia, em outros momentos da história nos deparamos com outras que deixaram profundas marcas na humanidade. Mas, assim como as doenças são diferentes, o tempo é outro, as ciências juntamente com os avanços tecnológicos produzem novos questionamentos, pesquisas e resultados. Quando revisitamos a nossa história destacamos grandes pandemias que deixaram grandes lacunas em nossas sociedades.

 

As 5 maiores pandemias da história[…] A peste bubônica; causada pela bactéria yersina-pestis […] a causadora da peste negra, que assolou a Europa no século XIV, matando entre 75 e 200 milhões de pessoas na antiga eurásia. […] A variola atormentou a humanidade por mais de 3 mil anos […] o vírus orthopoxvírus-variolae era transmitido de pessoa para pessoa, por meio das vias respiratórias […]. A cólera matou centena de milhares de pessoas. […] a bactéria vibrio cholerae sofre diversas mutações e causa novos ciclos epidêmicos de tempos em tempos, ainda é considerada uma pandemia […] é mais comum em países subdesenvolvidos. […] Gripe espanhola, acredita-se que entre 40 e 50 milhões de pessoas tenha morrido na pandemia […] de 1918, causada pelo vírus influenza mortal. O presidente do Brasil, Rodrigo Alves, morreu da doença em 1919 […]. Conhecida como gripe suína, o H1N1 foi o primeiro causador de pandemia do século XXI. O vírus surgiu em porcos no México, em 2009 se espalhou rapidamente pelo mundo, matando 16 mil pessoas[…].[1]

        Diante da realidade apresentada, faz-se necessária uma autorreflexão sobre nossas atitudes em relação a nossa maneira de viver e se relacionar no mundo hodierno, reflexão essa que, por motivos da correria diária, seja, provocada de modo intencional pelo mercado de trabalho ou pela busca de segurança social diária, nos foi usurpada.

        A humanidade, na então “Modernidade Líquida”[2], conceito desenvolvido e que foi bastante trabalhado pelo pensador polonês Zygmunt Bauman, vivencia a constante insegurança ocasionada por fatores externos como: desemprego em massa; terrorismo; crime organizado; isolamentos sociais, etc. Que consequentemente ativa os medos e doenças internas do indivíduo. No seu livro Tempos Líquidos, encontramos a figura do ser humano que tenta adaptar-se, mesmo que de maneira fragmentada, às realidades da sociedades pós-modernas, onde justamente temos a precarização das instituições básicas, que doravante nos davam segurança, mas que hoje se tornaram fluídas e passageiras. Por causa das constantes buscas por seguridade nesta modernidade, trocamos a liberdade pela segurança, mesmo que essa seja passageira. Vivenciamos a era social onde o sujeito transforma-se do Ser para o Ter, se objetificando de acordo com os parâmetros mercadológicos. A lei do fazer e ter da contemporaneidade fez com que esquecêssemos de dar significado a nós mesmos e às nossas atividades, levando-nos, portanto, à superficialidade. A humanidade já escravizada pelo imediatismo do fazer sem pensar choca-se consigo mesma.

Na parada forçada decorrente da pandemia, nos encontramos angustiados por causa do brusco isolamento nas cadeias externas, nossas casas, apartamentos, condomínios, etc. Sabemos que essa lógica não se aplica a todas as esferas sociais de países subdesenvolvidos ou pobres, pois, mesmo com toda a situação dramática e das buscas por alimentos necessários para sobrevivência, a classe mais pobre teve que se arriscar para não morrer de fome, sendo totalmente desamparada pelo sistema governamental. Poderíamos nos perguntar, antes desta pandemia com covid-19 nós já estávamos presos e separados? A resposta para esta pergunta nas diversas ciências humanas certamente será sim, já que com o mortal jogo do sistema capitalista que age como um parasita no corpo de seu hospedeiro, alimentando-se, todavia, de sua energia e vitalidade levando à morte certa de seus hospedeiros, visa tão somente o lucro. No isolamento causado pelas tecnologias, medos sociais, falta de oportunidade, racismo, xenofobia, homofobia, polarização política e ideológica, discurso enfatizando o ódio, a destruição do outro e da natureza, ocasionou nosso distanciamento antes da pandemia.

A nível global, países encontram-se no processo de avanço de suas supremacias e fechamento de suas fronteiras territoriais[3], o discurso é: “Nós somos os melhores.” O bem-estar social ameaçado fez países erguerem muros e expulsar pessoas, a dignidade foi posta em discursão. A identidade pelo fato de não ter nação e ser refugiado foi retirada do indivíduo que por sua vez se sente como descartável na sociedade. Agora com tudo sendo observado por nós parados em casa, mais uma vez essa lógica não se aplica a todos, nos questionamos: O planeta vai se tornar um lugar melhor para se viver? A humanidade vai ficar mais generosa?

  São perguntas que de fato nos faz parar para refletir, alguns têm posicionamentos e respostas positivas outros nem tanto. Mesmo assim é valido se questionar e refletir. Somos seres em constante mudanças, a cada momento que se vive buscamos por conhecimento, mesmo que na atualidade seja supérfluo, ávido. Quando somos capazes de analisar criticamente nossas atitudes, percebemos que estamos no caminho da autodestruição quando construímos muros em vez de pontes, incentivamos a guerra em vez da paz, pregamos o ódio e a violência em vez de empatia e solidariedade, estamos fadados a morrer sufocados no isolamento do egocentrismo. 

  É preciso perceber-se como parte dessa imensa criação que somos, tudo o que está ao nosso redor faz parte de nosso ser, portanto constitui uma dignidade e precisa ser valorizado, preservado e amado. Cultivar pequenas atitudes desenvolvem boas e grandes consequências para nós nesta “casa comum”, onde tudo está interligado, como fala o Papa Francisco[4]. Mudar nossas atitudes é ter compaixão pelas gerações futuras, para que elas possam desfrutar das maravilhas do bem viver em comum unidade.[1]Hoje “tudo está conectado”: vivemos no auge da cultura da informação, das tecnologias de ponta, é por isso que a ecologia deve ser “ecologia integral”, não uma espécie de ambientalismo superficial ou aparente. A capacidade de cuidar de tudo o que existe, isto é algo que transcende, e por isso denominamos como ecologia ambiental, econômica, social e cultural. 

Referencias: 

[1] Citação retirado do artigo da https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2020/03/conheca-5-maiores-pandemias-da-historia.html. Às 22:27 de 12/08/2020. [2]  Artigo: Souza, Wuldson Marcelo Leite. Uma excursão pelo contemporâneo a partir do conceito de modernidade líquida de Zygmunt Bauman/ Wuldson Marcelo Leite Souza.–2012. 112 f. [3 ]https://www.youtube.com/watch?v=I_iIOvyBBOc programa Matéria de Capa | Zonas de Conflito | 06/09/2015. [4]Hoje “tudo está conectado”: vivemos no auge da cultura da informação, das tecnologias de ponta, é por isso que a ecologia deve ser “ecologia integral”, não uma espécie de ambientalismo superficial ou aparente. A capacidade de cuidar de tudo o que existe, isto é algo que transcende, e por isso denominamos como ecologia ambiental, econômica, social e cultural.  https://www.cnbb.org.br/vamos-cuidar-da-nossa-casa-comum/ artigo de:  Cardeal Orani João Tempesta. Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

 

Autor - João Pedro Bezerra da Silva Noviço Redentorista - Graduado em Filosofia

João Pedro Bezerra da Silva Noviço Redentorista - Graduado em Filosofia

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